Os princípios verdadeiros podem ser bem diferentes dos nossos ...

Os princípios verdadeiros pelos quais devemos viver podem ser bem divergentes dos que cremos, podendo ser sofismas inventados pelos homens: sombras da verdade ou fragmentos dela.
A identidade do homem é construída por meio de certos contextos sociais, culturais e históricos, porém o Eterno está no contexto da humanidade absolutamente. Quando atinamos com isso, passamos da morte para a vida.
Nesta página poderemos refletir e argumentar, para descobrirmos se estamos vivendo a VERDADE, essa que é absoluta e que não depende de quaisquer pontos de vista.







"Não deixe portas entreabertas. Escancare-as ou bata-as de vez. Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semiventos, meias verdades e muita insensatez."
Cecília Meireles

Vivemos eternamente adquirindo convicções novas e num eterno trabalho de reeducação de nós mesmos.
Mário de Andrade

quarta-feira, 7 de março de 2012

Templos, Sacerdotes e Sacrifícios. - Cristianismo pagão - Cap.3

CAPÍTULO 3

O EDIFÍCIO DA IGREJA HERDANDO O COMPLEXO DE EDIFÍCIO

No afã de substituir antigas religiões, o cristianismo tornou-se uma religião.
-Alexander Schmemann

O
 moderno cristianismo é obcecado pelo tijolo e pelo concreto. O complexo de edifício está

tão inculcado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, sua primeira idéia é

encontrar um salão. Como pode um grupo de cristãos pretender ser uma igreja sem um salão? E por

aí vão seus pensamentos.

A “Igreja” está tão ligada à idéia de igreja enquanto edifício que nós inconscientemente

equiparamos as duas. Escute o vocabulário do cristão médio de hoje:
"Amigo, você viu como é bonita essa igreja que acabamos de passar?”

"Essa é a maior igreja que já vi. Sua conta de luz deve ser bem elevada!”

"Nossa igreja é bem pequena. Estou ficando claustrofóbico. Precisamos ampliar o salão”.

"Faz frio na igreja hoje; os bancos estão me congelando”.

"Fomos à igreja durante quase todos os domingos do ano”.
Escutemos o vocabulário do pastor mediano.
"Não é maravilhoso estar na casa de Deus hoje?"

"Necessitamos ser reverentes quando entramos no santuário do Senhor”.
Ou como a mãe fala com seu filho traquina (em tom grave), “
Tire esse sorriso de sua boca,

agora você está na igreja! Precisamos nos comportar na casa do Senhor!”
Para dizer sem rodeios, nenhum destes pensamentos tem qualquer coisa a ver com o

cristianismo do NT. Melhor dizendo, eles refletem o pensamento de outras religiões —

principalmente o Judaísmo e o paganismo.
1[1]

O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício.

Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o Templo
2[2]

que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras
vivas — “sem mãos [humanas]”.3[3] Ele é o

Sacerdote
4[4] que estabeleceu um novo sacerdócio.5[5] Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.6[6]

1[1]
Como foi dito anteriormente, a mistura entre o Judaísmo e a mística religiosa pagã em muito influenciou o formato da Igreja

após a idade Apostólica. Ilion T. Jones,
A Historical Approach to Evangelical Worship (New York: Abingdon Press, 1954), pp.

94, 97.

2[2]
John 1:14 (a palavra grega para “habitou” significa literalmente “tabernaclou”); 2:19-21.

3[3]
Marcos 14:58; Atos 7:48; 1 Cor. 3:16; 2 Cor. 5:1, 6:16; Efésios 2:21-22; Heb. 3:6-9, 9:11, 24; 1 Tim. 3:15.

4[4]
Heb. 4:14; 5:5,6,10; 8:1.

5[5]
1 Pedro 2:9; Apocalipse 1:6.

6[6]
Heb. 7:27; 9:14,25-28; 10:12; 1 Pedro 3:18. A Epístola aos Hebreus continuamente enfatiza que Jesus ofertou-se “de uma vez

para sempre” enfatizando o fato de que Ele não necessita ser sacrificado novamente. O sacrifício de Cristo no Calvário foi

completamente suficiente.

Como conseqüência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de

Jesus Cristo.
7[7] Cristo é o cumprimento e a realidade de tudo isso.8[8] No paganismo grecoromano9[

9]
estes 3 elementos também estavam presentes: Os pagãos tiveram seus templos,10[10] seus

sacerdotes e seus sacrifícios.
11[11]

Foram apenas os cristãos que descartaram todos estes elementos.
12[12] Poder-se-ia dizer que o

cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a
pessoa que

constituía o espaço sagrado, não a arquitetura. Os primeiros cristãos entendiam que eles mesmos —

coletivamente — eram o templo de Deus e a casa de Deus.
13[13]

Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (
ekklesia), “templo”,

ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios. Ao ouvido do cristão do século I,

descrever um edifício como
ekklesia (igreja) seria como chamar uma mulher de arranha-céu!14[14]

O uso inicial da palavra
ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no

ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215).
15[15] Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a

frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I.
16[16] (Ninguém pode

deslocar-se a um lugar que é ele mesmo! Ao longo do NT,
ekklesia sempre se referiu a uma

assembléia de pessoas, não a um lugar!)
17[17]

7[7]
A mensagem de Estevão em Atos 7 indica que “o templo era meramente uma casa feita por mãos humanas, originado com

Salomão; não tinha nenhuma conexão com a tenda de encontro que a Moisés fora ordenado montar em um padrão divinamente

revelado e usada até o tempo de Davi”. (Harold W. Turner,
From Temple to Meeting House: The Phenomenology and Theology

of Places of Worship
, The Hague: Mouton Publishers, 1979, pp. 116-117). Veja também o contraste utilizado pelo Senhor em

Marcos 14:58 de que o templo de Salomão (e Herodes) foi feito “por mãos [humanas]”, enquanto que o templo que Ele

construiria seria feito “sem mãos [humanas]”. Estevão usa o mesmo palavreado em Atos 7:48... Deus não habita em templos

“feito por mãos [humanas]”. Em outras palavras, nosso Pai celeste não é um construtor de templos!

8[8]
Col. 2:16-17. Jesus Cristo veio cumprir e clarear imagem vaga da lei judaica, este é o tema central da carta aos hebreus. Todos

os escritores do NT afirmam que Deus não requer nem sacrifício santo nem sacerdócio mediatório. Todas essas coisas foram

cumpridas Jesus — o Sacrifício e a Mediação Sacerdotal.

9[9]
O paganismo dominou o Império romano até por volta do quarto século. Mas muitos de seus elementos foram absorvidos

pelos cristãos nos séculos III e IV. O termo “pagão” foi uma invenção dos apologistas cristãos numa tentativa de agrupar os não

cristãos em uma embalagem adequada. Originariamente, um “pagão” é um camponês; alguém que habita o
pagus ou distrito

rural. Pelo fato do cristianismo esparramar-se principalmente nas cidades, o rude camponês, ou “pagão”, foi tido como aquele

que acreditava nos antigos deuses (
Christians and the Holy Places, p. 301).

10[10]
Ernest H. Short dedica todo um capítulo à arquitetura dos templos gregos em seu livro A History of Religious Architecture

(London: Philip Allen & Co., 1936), Capítulo 2. David Norrington afirma, “Os edifícios religiosos foram, contudo, parte integral

da religião greco-romana”. (David C. Norrington,
To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question, Carlisle:

Paternoster Press, 1996, p. 27). O pagãos também tinham santuários “santos”. Michael Grant,
The Founders of the Western

World: The History of Greece and Rome
(New York: Charles Scribner’s Sons, 1991), pp. 232-234.

11[11]
Robin Lane Fox, Pagans and Christians (New York: Alfred Knopf, 1987), pp. 39, 41-43, 71-76, 206.

12[12]
Christian History, Volume XII, No. 1, Issue 37, p. 3.

13[13]
1 Cor. 3:16; Gál. 6:10; Efésios 2:20-22; Heb. 3:5; 1 Tim. 3:15; 1 Pedro 2:5; 4:17. Todas estas passagens se referem ao povo

de Deus, não a um edifício. Nas palavras de Arthur Wallis, “No Velho Testamento, Deus tinha um santuário para Seu povo; no

Novo, Deus tem Seu povo como um santuário”.

14[14]
De acordo com o NT, a igreja é a garota mais bonita do mundo: John 3:29; 2 Cor. 11:2; Efésios 5:25-32; Apocalipse 21:9.

15[15]
Clement of Alexandria, The Instructor, Book III, Ch. 11.

16[16]
Adolf Von Harnack referindo-se aos cristãos dos séculos I e II, disse, “uma coisa é clara — a idéia de um lugar especial para

adoração não tinha surgido ainda. A idéia cristã de Deus e do divino serviço não apenas declinou em promover tal lugar, ela a

excluiu, na medida em que as circunstâncias práticas da situação retardaram seu desenvolvimento” (
To Preach or Not to Preach?

p. 28).

17[17]
Robert Saucey, The Church in God’s Program, p. 12; A.T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light

of Historical Research
, p. 174. A palavra inglesa “church” assim como a palavra escocesa kirk e a palavra germânica kirche são

todas derivadas da palavra grega
kuriakon que significa “pertencendo a Deus”. A palavra inglesa “church” vem do inglês arcaico

cirice
ou circe que é derivada da palavra grega kuriakon. Com o tempo, ela passou a significar “casa de Deus” e foi involucrada

referindo-se a edifício. Os tradutores da Bíblia Inglesa cometeram a enorme injustiça traduzindo
ekklesia por “church”. Ekklesia,

em todas suas 114 aparições no NT, sempre significa uma assembléia de pessoas (
The Church in God’s Program, pp. 11,16).

William Tyndale deveria ser recomendado porque na tradução dele do NT, ele recusou usar a palavra “
church” para traduzir

ekklesia
. Ao invés de church, ele a traduziu mais corretamente como “congregação”. Infelizmente, os tradutores do KJV

escolheram não seguir a tradução superior de Tyndale neste assunto e recorreram a “
church” como tradução de ekklesia. Eles

rejeitaram a correta tradução de
ekklesia como “congregação” porque esta era a terminologia usada pelos Puritanos ("The

Translators to the Reader”, Prefácio da tradução de G. Bray em 1611,
Documents of the English Reformation, Cambridge: James

Clarke, 1994, p. 435).

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