Os princípios verdadeiros podem ser bem diferentes dos nossos ...

Os princípios verdadeiros pelos quais devemos viver podem ser bem divergentes dos que cremos, podendo ser sofismas inventados pelos homens: sombras da verdade ou fragmentos dela.
A identidade do homem é construída por meio de certos contextos sociais, culturais e históricos, porém o Eterno está no contexto da humanidade absolutamente. Quando atinamos com isso, passamos da morte para a vida.
Nesta página poderemos refletir e argumentar, para descobrirmos se estamos vivendo a VERDADE, essa que é absoluta e que não depende de quaisquer pontos de vista.







"Não deixe portas entreabertas. Escancare-as ou bata-as de vez. Pelos vãos, brechas e fendas passam apenas semiventos, meias verdades e muita insensatez."
Cecília Meireles

Vivemos eternamente adquirindo convicções novas e num eterno trabalho de reeducação de nós mesmos.
Mário de Andrade

terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre postagens no Face "eu amo meu pastor"

Prefiro postar eu amo Jesus, Ele, sim é meu pastor.
Pastor é função, portanto, devemos amar todos igualmente, sem fazermos acepção de pessoas, pois Deus não o faz!!!
Não acredito em hierarquia, nem em liderança e nem na Instituição Eclesiástica que não deixa as ovelhas escolherem com quem querem andar.
A Igreja de Cristo é livre, nela todos podem opinar, participar e exercer todas as funções de acordo com a necessidade do corpo. Ninguém é melhor do que ninguém, todos possuem problemas e pecam, porém todos foram justificados pela obra de Cristo na cruz, logo nossas obras não possuem valor. Deus prepara as obras para que andemos nelas.
Aquele que quiser ser o maior: que sirva!

domingo, 18 de março de 2012

Ninguém despreze o dia das coisas pequenas

“Ninguém despreze o dia das coisas pequenas”. Zacarias 4.10

 Quando a menina Florence Nightingale brincava fazendo curativos em suas bonecas era o dia das coisas pequenas. Mas chegou o momento em que ela fez da enfermagem um abençoado ministério que se tornou famoso no mundo inteiro, sendo ela chamada “A Dama da Lâmpada e o Anjo da Criméia”. Ser enfermeira tornou-se um encargo nobre e glorioso.
Quando Benjamin Franklin brincava em plena tempestade com suas pipas de papel amarrando pedaços de metal era o dia das coisas pequenas. Mas chegou o momento em que foi inventado o pára-raios para segurança de milhares de vidas.
Quando Santos Dumont brincava com seus aviões de papel ou de bambu, tentando fazê-los subir como pássaros, era o dia das coisas pequenas. Mas um dia iria acontecer o fato grandioso de ele subir em um pequeno avião mais pesado que o ar e dar a volta em torno da Torre Eiffel de Paris e assim iniciava uma nova era na história dos transportes.
Quando alfabetizei, usando o método de uma criança de 8 ou 9 anos, duas empregadas que moravam conosco, uma num ano e outra num outro ano, esse era o dia das coisas pequenas. Tornei-me professora de meus filhos em casa por alguns anos (também dia de coisas pequenas), fui professora de Língua Inglesa e de Língua Portuguesa em escola pública e privada e, hoje, posso trabalhar numa instituição de inclusão escolar, aliviando o sofrimento de muitas crianças e adolescentes e, consequentemente, o de suas famílias. Posso dizer que foi Deus, plantando uma sementinha no coração daquela menina travessa e irrequieta, inconformada com a injustiça que percebeu, ter duas mulheres analfabetas, trabalhando em sua casa. Não passou pela minha cabeça, nem de longe que, um dia, eu me tornaria a diretora/fundadora dessa instituição.
Muitas vezes, pensamos que não estamos fazendo nada, que é só uma brincadeira de criança – que teve por compromisso comprar um material numa banca de revistas, ensinar, passar lição de casa, corrigir com caneta vermelha (imitando minha professora) e pegando na mão do adulto para que conseguisse traçar as letras e as palavras. Lia para elas e as corrigia quando ao invés de tábua, liam “tauba” e assim por diante.
Meus pais ralhavam comigo porque ficava trancada no quartinho delas por horas a fio como professora.
Deus traça seus planos, entendendo nós de salvação e de sacrifício ou não. Podemos cumpri-los ou não. Depende da nossa fé e no valor que dermos às coisas pequenas.
Atualmente, tenho procurado valorizar todas as coisas, menores que possam parecer aos homens. Valorizo até mesmo abrir a porta e dizer “Bom dia!” para uma criança que chega à instituição. Capricho na decoração, nos potes de bala, nas cores, pois sei que, assim, as crianças perceberão que são amadas, fazendo do lugar o mais aconchegante possível. Que elas se sintam em casa: tudo é delas e para elas. Elas são o alvo do amor de Deus e não podemos impedi-las de sentirem esse amor.
Posso me considerar uma pessoa feliz e realizada por cada atitude pequena que cresceu e virou árvore, mesmo arbusto, ou uma plantinha. Foi um aprendizado duro, concordo com você, amigo Joubert, até que eu percebesse que Deus valoriza os detalhes que passam despercebidos aos desavisados...
Finalizo esse artigo, ideia sua Joubert, com outra passagem bíblica:
Eclesiastes 11:6uenas) e, hoje, posso trabalhar numa instituição de inclusão escolar, aliviando o sofrimento de muitas crianças e adolescente. Deus plantou essa semente no meu coração, quando eu, ainda nem sabia quem me tornaria. Muitas vezes, pensamos que não estamos fazendo nada, que é só uma brincadeira de criança, entretanto Deus traça seus planos, podemos cumpri-los ou não. Depende do valor que dermos às coisas pequenas.
Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão igualmente boas.”

sábado, 17 de março de 2012

Gratidão x Ingratidão



A Gratidão é um presente para os que você ama. “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo” Provérbios 3.27.

 A gratidão é uma atitude que se aprende. Não é, necessariamente, alguma coisa que nasça dentro de nós e que é requerida para se entrar na presença de Deus.
Contudo, a ingratidão é um câncer perigoso que pode entrar muito rapidamente. Ela vem quando um parente ou amigo contencioso alimenta um mal- entendido.
A ingratidão é contagiosa. Uma pessoa ingrata pode destruir incrivelmente o fluxo de milagres em nossas vidas. A ingratidão nos cega para todo dom de Deus e mesmo dos homens.
Pessoas ingratas criam uma atmosfera de desânimo.
Pessoas ingratas, frequentemente, militam para influenciar outras com sua ingratidão.
Pessoas ingratas nos desmotivam. Elas nos desmoralizam e destroem cada sonho dentro de nós.
Ingratidão e falta de consideração por aquilo que Deus já fez ou que alguém fez por nós são duas das mais importantes razões, pelas quais as pessoas nunca provarão o retomo centuplicado.
Não podemos nos dar ao luxo de suportar a tragédia de termos em nossas vidas a ingratidão ou de sermos pessoas ingratas. Se não conseguirmos ser gratos por algo que recebemos de alguém, como poderemos ser gratos pela obra de Cristo na cruz?

 Sem gratidão, jamais entenderemos a graça!

Precisa-se de um Amigo

Poesia - Carlos Drummond de Andrade - Precisa-se de um Amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimentos.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível, que seja de segunda mão.

Não é preciso que seja puro, ou todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Pode já ter sido enganado ( todos os amigos são enganados).

Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve gostar de crianças e lastimar aquelas que não puderam nascer.

Deve amar o próximo e respeitar a dor que todos levam consigo.

Tem que gostar de poesia, dos pássaros, do por do sol e do canto dos ventos.

E seu principal objetivo de ser o de ser amigo.

Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo.

Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo.

Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive.

sexta-feira, 16 de março de 2012

É tempo de graça.

Se Jesus fizesse parte de uma instituição eclesiástica hoje em dia, não poderia se aproximar dos doentes, dos leprosos, das prostitutas e, também, apedrejaria a mulher adúltera. Que é o que faz a nata irrepreensível (?!).
Como Ele não pertence a ela, então, anda com os miseráveis, escolhe os desqualificados e abraça os adúlteros e ladrões. Convida os aleijados e coxos e os força a participar com ele do banquete.
Os bem-vestidos ficarão de fora. A roupa certa para o banquete é o andrajo.



Fazer o bem entre os domésticos da fé











Infelizmente, os ímpios têm tido muito mais misericórdia do que os líderes eclesiásticos, que se colocaram na cadeira de Moisés e, passaram a julgar, condenar e excluir os irmãos problemáticos. Às vezes, sinto que existe um ódio "cristão", ou melhor, religioso - do mesmo tipo que lemos na história das Cruzadas - dentro deles, porque ficam esperando que erremos muito ou pouco para nos apontar o dedo e nos disciplinar, quase levando nossa fé à morte. Esqueceram de que o amor cobre uma multidão de pecados e de que a misericórdia triunfa sobe o juízo. Está difícil, hoje, sabermos quem é irmão ou amigo ou se seremos abandonados, ao menor sinal de fraqueza. Pior, a cadeira de Moisés já possui a altura de um arranha-céu. Temo pelos juízes e algozes, pois será grande a sua queda.

Pós Modernidade Musica de Carlos Sider

quarta-feira, 14 de março de 2012

A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.

A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.

Provérbios 16:18

Um sapo estava pensando em como poderia fugir do clima frio do inverno. Alguns gansos selvagens sugeriram que ele migrasse com eles. Mas o sapo sabia que não podia voar. “Eu tenho um cérebro brilhante”, disse o sapo, “deixe comigo”. Depois de pensar um pouco, pediu que os dois gansos o ajudassem. O plano consistia em dois gansos segurarem um em cada ponta de um forte caniço, enquanto o sapo se segurava com a boca no meio do caniço. E assim a viagem começou. Quando passavam sobre uma pequena cidade, os moradores saíram para ver aquela cena estranha. Alguns gritaram: “Quem poderia bolar algo tão genial?” O sapo foi se inchando de orgulho, se achando importante. E, de tão inchado, não resistiu e exclamou: “Eu bolei tudo!” Seu orgulho foi a sua própria ruína, pois no momento em que abriu a boca, se soltou do caniço e estatelou-se no chão, morto. Moral da história:
Seja outro o que te louve, e não a tua boca - Pv 16.18; 27.2.
  
Sábio é aquele que tira lições de vida prática cristã o dia inteiro, aplicando a Palavra de Deus lida e relida. Coloquei água demais em algumas plantas e elas morreram.
Apodreceram e o cheiro que exalava era horroroso.
Apliquei o que aprendi, lendo a respeito do excesso de conhecimento que torna o homem soberbo e concluí que, uma pessoa morre por falta de conhecimento, conforme o que está escrito em Oséias- a planta seca por falta de água - e ela  não exala um mau odor; entretanto, a planta que apodrece por receber muita água, cheira muito mal.
A soberba nos faz cheirar mal e nem percebemos que estamos mortos.
Em tudo, devemos buscar o equilíbrio, ou para não secarmos. morremos de inaniçcão por falta da Palavra de Deus ou para não cheirarmos mal, acharmos que sabemos muito, que temos explicação para tudo e que somos donos da verdade, o que nos leva a pensar que estamos acima do bem e do mal : a soberba nos torna frios e cruéis!!!

 
Mas, não pensem que a soberba é inerente aos belos, ricos e sábios. Não.
Existe o avesso desse sentimento tão peculiar; é o pobre soberbo, que não aceita ajuda, que ostenta sua miséria como um galardão, para ser admirado pelos outros e citado como exemplo. -Vejam como ele é: tão íntegro! Dizem todos, pois é isso que o falso soberbo quer: admiração.
Assim, fingem ser mais ignorantes do que são, ostentam uma falsa humildade, depreciam-se sempre para serem elogiados. Orgulhosos dos seus dotes, subservientes, às vezes, cabisbaixos, sempre, porém, queimando interiormente, invejando os mais afortunados.

 
E, dizendo ele isto em sua defesa, disse Festo em alta voz: Estás louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar - Atos 26.24.
Oséas 4:6  - Meu povo é destruído por falta de conhecimento
Gên. 2:17 - Mas vocês não devem comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois quando comerdes, certamente morrereis.
1 Cor 8:1 - É fácil pensarmos que "conhecemos" problemas assim, mas devemos lembrar que enquanto este "conhecimento" pode fazer um homem parecer grande, é somente o amor que pode fazer com que ele cresça a sua estatura completa. Pois se um homem acha que "sabe", ele pode muito bem ainda ser bem ignorante sobre o que ele realmente deve saber.
1 Cor 8:1- O conhecimento incha, mas o amor constrói.
1 Cor 13:2 - Se eu tiver o dom de profecia e poder entender todos os mistérios e todo o conhecimento... mas sem amor , eu não tenho nada.
Mat. 11:25 -  Naquele tempo Jesus disse, "Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e dos cultos, e as revelou para as criancinhas."
 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Misericórdia ou juízo?

A organização eclesiástica foi construída só para os sãos. Jesus veio para os doentes, por essa causa permaneço fora dela. Quem diz que não peca é mentiroso. Jesus veio para os pecadores, portanto, não pode estar entre os metirosos: Ele é a VERDADE!
Lamento muito, quando ouço que alguém teve de ser excluído da organização dos sadios, pois esquece que a misericórdia triunfa sobre o juízo e a medida com que será medida será a mesma, pois o juízo será sem  misericórdia para os que não exerceram a misericórdia.
A organização eclesiaástica expulsou Jesus e colocou o homem para tomar as decisõe e para julgar.
A organização eclesiástica é desumana. Jesus se fez homem, Ele sabe do quanto necessitamos nos tornar verdadeiros homens, corajosos, a fim de voltarmos a ter misericódia uns dos outros.
Só existe uma maneira de Jesus voltar para a organização eclesiástica: se reconhecerem que são doentes e pecadores... assim, ela voltará a ser Igreja.

sábado, 10 de março de 2012

Casamento e divórcio: uma pergunta que me fizeram via facebook.

Ontem uma pessoa, que deve ter lido algum escrito meu e concluiu que sou "cristã", me perguntou qual seria meu conceito sobre casamento e sobre divórcio. Então, que possamos discutir aqui o que penso.
Minha resposta:

Eu não tenho conceito algum, sigo a Bíblia, e biblicamente, no NT, Jesus explica que o divórcio foi criado por causa da dureza do coração dos homens e que é permitido no caso de adultério. Sobre casamento, é figura de Cristo e da Igreja e é um mistério, como diz Paulo, o apóstolo. Do jeito que as coisas andam malucas, hoke em dia, devemos depender do Espírito Santo em todas as nossas visões e possuir a mente renovada para que não sigamos os padrões do mundo. Casamento é aliança, muitos se casam, porém não são aliançados uns com os outros. Muitos fazem tipo na hora da cerimônia e tudo o que se vê é um teatro, principalmente nos dias atuais, isso, digo, dentro da dita organização eclesiástica que é regida muito mais por preceitos humanos do que pelo senhorio de Cristo. Estou casada há 30 anos, tive de abrir mão, por amor, de muitos gostos e vice-versa, pois considero a aliança que fiz com meu marido inegociável, pois devo dar a minha vida pelo mais próximo e constituir uma família que seja uma parte do corpo de Cristo para que seja pregação do evangelho, boas novas, esperança. Se fizermos uma aliança com alguém, invocando o Nome de Cristo, devo ter o temor de fazer de tudo para honrar essa aliança que leva o Nome de Deus. Entretanto, se me "casei" sem ter essa noção de aliança, não assumi o compromisso de dar a minha vida , então foi apenas mais um evento, mais uma festa, ou qualquer outra coisa, menos aliança banhada na graça e no sangue de Cristo, conforme está em Ef. 5:22 (ou o capítulo inteiro), em que Paulo nos aconselha à santidade (separação, não ao molde dos princípios culturais vigentes), ele aconselha, mas quem nos dirige as nossas vidas é é o Espírito Santo e, não, Paulo.
Portanto, se nosso casamento é aliança, não deveria ser desfeito, contudo, se for algo que não foi aliançado com o discernimento do Espírito, cujo tabernáculo somos nós, selado, conscientemente, por Ele em nós e, nunca pelo pastor ou padre ou quem quer que seja (pois todos nós somos reis e sacerdotes - hierarquia é coisa medieval e pagã - porque quem quiser ser líder deve servir e não mandar; sacerdócio é Velho Testamento - nós somos sacerdotes). Se não for essa aliança consciente, selada com esse discernimento, não é casamento, é só mais um evento. Assim sendo, podemos nos separar quando quisermos, pedirmos perdão pela nossa irresponsabilidade, deixarmos a culpa na cruz e buscarmos, da próxima vez, se houver, nos aliançarmos com quem amamos de verdade.
Concluindo, minha opinião, baseada no que creio, é devemos ser muito responsáveis, o casal, ao nos unirmos em casamento. Se um dos dois não possuir essa consciência de aliança, nunca haverá casamento de verdade, estão divorciados mesmo vivendo juntos. Para que haja aliança, ambos devem concordar que casamento é coisa muito séria e é ligar no céu o que foi ligado na terra.
Existem pouquíssimos casais, verdadeiramente aliançados, que jamais de divorciarão consciente ou inconscientemente. Por isso essa confusão toda e tanta separação. Não há instrução da seriedade que é para Deus uma união verdadeira a ponto de ser figura de Cristo e da Igreja.
Se você é casado, medite para ver se é aliança ou evento. Se não é casado, seja responsável ao escolher sua companheira, sabendo que aliança não se desfaz. Se foi feito, sem essa cosnciência, você não é casado, portanto, o divórcio é só a concretização daquilo que nunca existiu.
Que Deus continue tendo misericórdia de nós, pois perecemos por falta de conhecimento e de verdadeira submissão ao Espírito, que é Jesus tabernaculando em nós.!!!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Templos, Sacerdotes e Sacrifícios. - Cristianismo pagão - Cap.3

CAPÍTULO 3

O EDIFÍCIO DA IGREJA HERDANDO O COMPLEXO DE EDIFÍCIO

No afã de substituir antigas religiões, o cristianismo tornou-se uma religião.
-Alexander Schmemann

O
 moderno cristianismo é obcecado pelo tijolo e pelo concreto. O complexo de edifício está

tão inculcado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, sua primeira idéia é

encontrar um salão. Como pode um grupo de cristãos pretender ser uma igreja sem um salão? E por

aí vão seus pensamentos.

A “Igreja” está tão ligada à idéia de igreja enquanto edifício que nós inconscientemente

equiparamos as duas. Escute o vocabulário do cristão médio de hoje:
"Amigo, você viu como é bonita essa igreja que acabamos de passar?”

"Essa é a maior igreja que já vi. Sua conta de luz deve ser bem elevada!”

"Nossa igreja é bem pequena. Estou ficando claustrofóbico. Precisamos ampliar o salão”.

"Faz frio na igreja hoje; os bancos estão me congelando”.

"Fomos à igreja durante quase todos os domingos do ano”.
Escutemos o vocabulário do pastor mediano.
"Não é maravilhoso estar na casa de Deus hoje?"

"Necessitamos ser reverentes quando entramos no santuário do Senhor”.
Ou como a mãe fala com seu filho traquina (em tom grave), “
Tire esse sorriso de sua boca,

agora você está na igreja! Precisamos nos comportar na casa do Senhor!”
Para dizer sem rodeios, nenhum destes pensamentos tem qualquer coisa a ver com o

cristianismo do NT. Melhor dizendo, eles refletem o pensamento de outras religiões —

principalmente o Judaísmo e o paganismo.
1[1]

O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício.

Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o Templo
2[2]

que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras
vivas — “sem mãos [humanas]”.3[3] Ele é o

Sacerdote
4[4] que estabeleceu um novo sacerdócio.5[5] Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.6[6]

1[1]
Como foi dito anteriormente, a mistura entre o Judaísmo e a mística religiosa pagã em muito influenciou o formato da Igreja

após a idade Apostólica. Ilion T. Jones,
A Historical Approach to Evangelical Worship (New York: Abingdon Press, 1954), pp.

94, 97.

2[2]
John 1:14 (a palavra grega para “habitou” significa literalmente “tabernaclou”); 2:19-21.

3[3]
Marcos 14:58; Atos 7:48; 1 Cor. 3:16; 2 Cor. 5:1, 6:16; Efésios 2:21-22; Heb. 3:6-9, 9:11, 24; 1 Tim. 3:15.

4[4]
Heb. 4:14; 5:5,6,10; 8:1.

5[5]
1 Pedro 2:9; Apocalipse 1:6.

6[6]
Heb. 7:27; 9:14,25-28; 10:12; 1 Pedro 3:18. A Epístola aos Hebreus continuamente enfatiza que Jesus ofertou-se “de uma vez

para sempre” enfatizando o fato de que Ele não necessita ser sacrificado novamente. O sacrifício de Cristo no Calvário foi

completamente suficiente.

Como conseqüência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de

Jesus Cristo.
7[7] Cristo é o cumprimento e a realidade de tudo isso.8[8] No paganismo grecoromano9[

9]
estes 3 elementos também estavam presentes: Os pagãos tiveram seus templos,10[10] seus

sacerdotes e seus sacrifícios.
11[11]

Foram apenas os cristãos que descartaram todos estes elementos.
12[12] Poder-se-ia dizer que o

cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a
pessoa que

constituía o espaço sagrado, não a arquitetura. Os primeiros cristãos entendiam que eles mesmos —

coletivamente — eram o templo de Deus e a casa de Deus.
13[13]

Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (
ekklesia), “templo”,

ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios. Ao ouvido do cristão do século I,

descrever um edifício como
ekklesia (igreja) seria como chamar uma mulher de arranha-céu!14[14]

O uso inicial da palavra
ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no

ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215).
15[15] Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a

frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I.
16[16] (Ninguém pode

deslocar-se a um lugar que é ele mesmo! Ao longo do NT,
ekklesia sempre se referiu a uma

assembléia de pessoas, não a um lugar!)
17[17]

7[7]
A mensagem de Estevão em Atos 7 indica que “o templo era meramente uma casa feita por mãos humanas, originado com

Salomão; não tinha nenhuma conexão com a tenda de encontro que a Moisés fora ordenado montar em um padrão divinamente

revelado e usada até o tempo de Davi”. (Harold W. Turner,
From Temple to Meeting House: The Phenomenology and Theology

of Places of Worship
, The Hague: Mouton Publishers, 1979, pp. 116-117). Veja também o contraste utilizado pelo Senhor em

Marcos 14:58 de que o templo de Salomão (e Herodes) foi feito “por mãos [humanas]”, enquanto que o templo que Ele

construiria seria feito “sem mãos [humanas]”. Estevão usa o mesmo palavreado em Atos 7:48... Deus não habita em templos

“feito por mãos [humanas]”. Em outras palavras, nosso Pai celeste não é um construtor de templos!

8[8]
Col. 2:16-17. Jesus Cristo veio cumprir e clarear imagem vaga da lei judaica, este é o tema central da carta aos hebreus. Todos

os escritores do NT afirmam que Deus não requer nem sacrifício santo nem sacerdócio mediatório. Todas essas coisas foram

cumpridas Jesus — o Sacrifício e a Mediação Sacerdotal.

9[9]
O paganismo dominou o Império romano até por volta do quarto século. Mas muitos de seus elementos foram absorvidos

pelos cristãos nos séculos III e IV. O termo “pagão” foi uma invenção dos apologistas cristãos numa tentativa de agrupar os não

cristãos em uma embalagem adequada. Originariamente, um “pagão” é um camponês; alguém que habita o
pagus ou distrito

rural. Pelo fato do cristianismo esparramar-se principalmente nas cidades, o rude camponês, ou “pagão”, foi tido como aquele

que acreditava nos antigos deuses (
Christians and the Holy Places, p. 301).

10[10]
Ernest H. Short dedica todo um capítulo à arquitetura dos templos gregos em seu livro A History of Religious Architecture

(London: Philip Allen & Co., 1936), Capítulo 2. David Norrington afirma, “Os edifícios religiosos foram, contudo, parte integral

da religião greco-romana”. (David C. Norrington,
To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question, Carlisle:

Paternoster Press, 1996, p. 27). O pagãos também tinham santuários “santos”. Michael Grant,
The Founders of the Western

World: The History of Greece and Rome
(New York: Charles Scribner’s Sons, 1991), pp. 232-234.

11[11]
Robin Lane Fox, Pagans and Christians (New York: Alfred Knopf, 1987), pp. 39, 41-43, 71-76, 206.

12[12]
Christian History, Volume XII, No. 1, Issue 37, p. 3.

13[13]
1 Cor. 3:16; Gál. 6:10; Efésios 2:20-22; Heb. 3:5; 1 Tim. 3:15; 1 Pedro 2:5; 4:17. Todas estas passagens se referem ao povo

de Deus, não a um edifício. Nas palavras de Arthur Wallis, “No Velho Testamento, Deus tinha um santuário para Seu povo; no

Novo, Deus tem Seu povo como um santuário”.

14[14]
De acordo com o NT, a igreja é a garota mais bonita do mundo: John 3:29; 2 Cor. 11:2; Efésios 5:25-32; Apocalipse 21:9.

15[15]
Clement of Alexandria, The Instructor, Book III, Ch. 11.

16[16]
Adolf Von Harnack referindo-se aos cristãos dos séculos I e II, disse, “uma coisa é clara — a idéia de um lugar especial para

adoração não tinha surgido ainda. A idéia cristã de Deus e do divino serviço não apenas declinou em promover tal lugar, ela a

excluiu, na medida em que as circunstâncias práticas da situação retardaram seu desenvolvimento” (
To Preach or Not to Preach?

p. 28).

17[17]
Robert Saucey, The Church in God’s Program, p. 12; A.T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light

of Historical Research
, p. 174. A palavra inglesa “church” assim como a palavra escocesa kirk e a palavra germânica kirche são

todas derivadas da palavra grega
kuriakon que significa “pertencendo a Deus”. A palavra inglesa “church” vem do inglês arcaico

cirice
ou circe que é derivada da palavra grega kuriakon. Com o tempo, ela passou a significar “casa de Deus” e foi involucrada

referindo-se a edifício. Os tradutores da Bíblia Inglesa cometeram a enorme injustiça traduzindo
ekklesia por “church”. Ekklesia,

em todas suas 114 aparições no NT, sempre significa uma assembléia de pessoas (
The Church in God’s Program, pp. 11,16).

William Tyndale deveria ser recomendado porque na tradução dele do NT, ele recusou usar a palavra “
church” para traduzir

ekklesia
. Ao invés de church, ele a traduziu mais corretamente como “congregação”. Infelizmente, os tradutores do KJV

escolheram não seguir a tradução superior de Tyndale neste assunto e recorreram a “
church” como tradução de ekklesia. Eles

rejeitaram a correta tradução de
ekklesia como “congregação” porque esta era a terminologia usada pelos Puritanos ("The

Translators to the Reader”, Prefácio da tradução de G. Bray em 1611,
Documents of the English Reformation, Cambridge: James

Clarke, 1994, p. 435).

domingo, 4 de março de 2012

Dr. John Stott — “O Paradigma: Tornando-nos Mais Semelhantes a Cristo”. Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17 de julho de 2007

Dr. John Stott — “O Paradigma: Tornando-nos Mais Semelhantes a Cristo”. Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17 de julho de 2007
Lembro-me muito claramente de que há vários anos, sendo um cristão ainda jovem, a questão que me causava perplexidade (e a alguns amigos meus também) era esta: Qual é o propósito de Deus para o seu povo? Uma vez que tenhamos nos convertido, uma vez que tenhamos sido salvos e recebido vida nova em Jesus Cristo, o que vem depois? É claro que conhecíamos a famosa declaração do Breve Catecismo de Westminster: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre”. Sabíamos disso e críamos nisso. Também refletíamos sobre algumas declarações mais breves, como uma de apenas sete palavras: “Ama a Deus e ao teu próximo”. Mas de algum modo, nenhuma delas, nem outra que pudéssemos citar, parecia plenamente satisfatória. Portanto, quero compartilhar com vocês o entendimento que pacificou minha mente à medida que me aproximo do final de minha peregrinação neste mundo. Esse entendimento é: Deus quer que seu povo se torne semelhante a Cristo. A vontade de Deus para o seu povo é que sejamos conformes à imagem de Cristo. Sendo isso verdade, quero propor o seguinte: em primeiro lugar, demonstrarmos a base bíblica do chamado para sermos conformes à imagem de Cristo; em segundo, extrairmos do Novo Testamento alguns exemplos; em terceiro, tirarmos algumas conclusões práticas a respeito. Tudo isso relacionado a nos assemelharmos a Cristo. Então, vejamos primeiro a base bíblica do chamado para sermos semelhantes a Cristo. Essa base não se limita a uma passagem só. Seu conteúdo é substancial demais para ser encapsulado em um único texto. De fato, essa base consiste de três textos, os quais, aliás, faríamos muito bem em incorporar conjuntamente à nossa vida e visão cristã: Romanos 8:29, 2 Coríntios 3:18 e 1 João 3:2. Vamos fazer uma breve análise deles. Romanos 8:29 diz que Deus predestinou seu povo para ser conforme à imagem do Filho, ou seja, tornar-se semelhante a Jesus. Todos sabemos que Adão, ao cair, perdeu muito — mas não tudo — da imagem divina conforme a qual fora criado. Deus, todavia, a restaurou em Cristo. Conformar-se à imagem de Deus significa tornar-se semelhante a Jesus: O propósito eterno de predestinação divina para nós é tornar-nos conformes à imagem de Cristo. O segundo texto é 2 Coríntios 3:18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Portanto é pelo próprio Espírito que habita em nós que somos transformados de glória em glória — que visão magnífica! Nesta segunda etapa do processo de conformação à imagem de Cristo, percebemos que a perspectiva muda do passado para o presente, da predestinação eterna de Deus para a transformação que ele opera em nós agora pelo Espírito Santo. O propósito eterno da predestinação divina de nos tornar como Cristo avança, tornando-se a obra histórica de Deus em nós para nos transformar, por intermédio do Espírito Santo, segundo a imagem de Jesus. Isso nos leva ao terceiro texto: 1 João 3:2: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é”. Não sabemos em detalhes como seremos no último dia, mas o que de fato sabemos é que seremos semelhantes a Cristo. Não precisamos saber de mais nada além disso. Contentamo-nos em conhecer a verdade maravilhosa de que estaremos com Cristo e seremos semelhantes a ele, eternamente. Aqui há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na mesma direção: há o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há o propósito histórico de Deus, pelo qual estamos sendo transformados pelo Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o eterno, o histórico e o escatológico — se unem e apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de Cristo. Este, afirmo, é o propósito de Deus para o seu povo. E a base bíblica para nos tornarmos semelhantes a Cristo é o fato de que este é o propósito de Deus para o seu povo. Prosseguindo, quero ilustrar essa verdade com alguns exemplos do Novo Testamento. Em primeiro lugar, creio ser importante que nós façamos uma afirmação abrangente como a do apóstolo João em 1 João 2:6: “Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”. Em outras palavras, se nos dizemos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo. Este é o primeiro exemplo do Novo Testamento: temos de ser como o Cristo Encarnado. Alguns de vocês podem ficar horrorizados com essa idéia e rechaçá-la de imediato. “Ora”, me dirão, “não é óbvio que a Encarnação foi um evento absolutamente único, não sendo possível reproduzi-lo de modo algum?” Minha resposta é sim e não. Sim, foi único no sentido de que o Filho de Deus revestiu-se da nossa humanidade em Jesus de Nazaré, uma só vez e para sempre, o que jamais se repetirá. Isso é verdade. Contudo, há outro sentido no qual a Encarnação não foi um evento único: a maravilhosa graça de Deus manifestada na Encarnação de Cristo deve ser imitada por todos nós. Nesse sentido, a Encarnação não foi única, exclusiva, mas universal. Somos todos chamados a seguir o supremo exemplo de humildade que ele nos deu ao descer dos céus para a terra. Por isso Paulo diz em Filipenses 2:5-8: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Precisamos ser semelhantes a Cristo em sua Encarnação no que diz respeito à sua admirável humildade, uma humilhação auto-imposta que está por trás da Encarnação. Em segundo lugar, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua prontidão em servir. Agora, passemos de sua Encarnação à sua vida de serviço; de seu nascimento à sua vida; do início ao fim. Quero convidá-los a subir comigo ao cenáculo onde Jesus passou sua última noite com os discípulos, conforme vemos no evangelho de João, capítulo 13: “Tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”. Ao terminar, retomou seu lugar e disse-lhes: “Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo” — note-se a palavra — “para que, como eu vos fiz, façais vós também”. Há cristãos que interpretam literalmente esse mandamento de Jesus e fazem a cerimônia do lava-pés em dia de Ceia do Senhor ou na Quinta-feira Santa — e podem até estar certos em fazê-lo. Porém, vejo que a maioria de nós fez apenas uma transposição cultural do mandamento de Jesus: aquilo que Jesus fez, que em sua cultura era função de um escravo, nós reproduzimos em nossa cultura sem levarmos em conta que nada há de humilhante ou degradante em o fazermos uns pelos outros. Em terceiro lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em seu amor. Isso me lembra especificamente Efésios 5:2: “Andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Observe que o texto se divide em duas partes. A primeira fala de andarmos em amor, um mandamento no sentido de que toda a nossa conduta seja caracterizada pelo amor, mas a segunda parte do versículo diz que ele se entregou a si mesmo por nós, descrevendo não uma ação contínua, mas um aoristo, um tempo verbal passado, fazendo uma clara alusão à cruz. Paulo está nos conclamando a sermos semelhantes a Cristo em sua morte, a amarmos com o mesmo amor que, no Calvário, altruistamente se doa. Observe a idéia que aqui se desenvolve: Paulo está nos instando a sermos semelhantes a Cristo na Encarnação, ao Cristo que lava os pés dos irmãos e ao Cristo crucificado. Esses três acontecimentos na vida de Cristo nos mostram claramente o que significa, na prática, sermos conformes à imagem de Cristo. Em quarto lugar, temos de ser semelhantes a Cristo em sua abnegação paciente. No exemplo a seguir, consideraremos não o ensino de Paulo, mas o de Pedro. Cada capítulo da primeira carta de Pedro diz algo sobre sofrermos como Cristo, pois a carta tem como pano de fundo histórico o início da perseguição. Especialmente no capítulo 2 de 1 Pedro, os escravos cristãos são instados a, se castigados injustamente, suportarem e não retribuírem o mal com o mal. E Pedro prossegue dizendo que para isto mesmo fomos chamados, pois Cristo também sofreu, deixando-nos o exemplo — outra vez a mesma palavra — para seguirmos os seus passos. Este chamado para sermos semelhantes a Cristo em meio ao sofrimento injusto pode perfeitamente se tornar cada vez mais significativo à medida que as perseguições se avolumam em muitas culturas do mundo atual. No quinto e último exemplo que quero extrair do Novo Testamento, precisamos ser semelhantes a Cristo em sua missão. Tendo examinado os ensinos de Paulo e de Pedro, veremos agora os ensinos de Jesus registrados por João. Em João 17:18, Jesus, orando, diz: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo”, referindo-se a nós. E na Comissão, em João 20:21, Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Estas palavras carregam um significado imensamente importante. Não se trata apenas da versão joanina da Grande Comissão; é também uma instrução no sentido de que a missão dos discípulos no mundo deveria ser semelhante à do próprio Cristo. Em que aspecto? Nestes textos, as palavras-chave são “envio ao mundo”. Do mesmo modo como Cristo entrou em nosso mundo, nós também devemos entrar no “mundo” das outras pessoas. É como explicou, com muita propriedade, o Arcebispo Michael Ramsey há alguns anos: “Somente à medida que sairmos e nos colocarmos, com compaixão amorosa, do lado de dentro das dúvidas do duvidoso, das indagações do indagador e da solidão do que se perdeu no caminho é que poderemos afirmar e recomendar a fé que professamos”. Quando falamos em “evangelização encarnacional” é exatamente disto que falamos: entrar no mundo do outro. Toda missão genuína é uma missão encarnacional. Temos de ser semelhantes a Cristo em sua missão. Estas são as cinco principais formas de sermos conformes à imagem de Cristo: em sua Encarnação, em seu serviço, em seu amor, em sua abnegação paciente e em sua missão. Quero, de modo bem sucinto, falar de três conseqüências práticas da assemelhação a Cristo. Primeira: A assemelhação a Cristo e o sofrimento. Por si só, o tema do sofrimento é bem complexo, e os cristãos tentam compreendê-lo de variados pontos de vista. Um deles se sobressai: aquele segundo o qual o sofrimento faz parte do processo da transformação que Deus faz em nós para nos assemelharmos a Cristo. Seja qual for a natureza do nosso sofrimento — uma decepção, uma frustração ou qualquer outra tragédia dolorosa —, precisamos tentar enxergá-lo à luz de Romanos 8:28-29. Romanos 8:28 diz que Deus está continuamente operando para o bem do seu povo, e Romanos 8:29 revela que o seu bom propósito é nos tornar semelhantes a Cristo. Segunda: A assemelhação a Cristo e o desafio da evangelização. Provavelmente você já se perguntou: “Por que será que, até onde percebo, em muitas situações os nossos esforços evangelísticos freqüentemente terminam em fracasso?” As razões podem ser várias e não quero ser simplista, mas uma das razões principais é que nós não somos parecidos com o Cristo que anunciamos. John Poulton, que abordou o tema num livreto muito pertinente, intitulado A Today Sort of Evangelism, escreveu: “A pregação mais eficaz provém daqueles que vivem conforme aquilo que dizem. Eles próprios são a mensagem. Os cristãos têm de ser semelhantes àquilo que falam. A comunicação acontece fundamentalmente a partir da pessoa, não de palavras ou idéias. É no mais íntimo das pessoas que a autenticidade se faz entender; o que agora se transmite com eficácia é, basicamente, a autenticidade pessoal”. Isto é assemelhar-se à imagem de Cristo. Permitam-me dar outro exemplo. Havia um professor universitário hindu na Índia que, certa vez, identificando que um de seus alunos era cristão, disse-lhe: “Se vocês, cristãos, vivessem como Jesus Cristo viveu, a Índia estaria aos seus pés amanhã mesmo”. Eu penso que a Índia já estaria aos seus pés hoje mesmo se os cristãos vivessem como Jesus viveu. Oriundo do mundo islâmico, o Reverendo Iskandar Jadeed, árabe e ex-muçulmano, disse: “Se todos os cristãos fossem cristãos — isto é, semelhantes a Cristo —, hoje o islã não existiria mais”. Isto me leva ao terceiro ponto: Assemelhação a Cristo e presença do Espírito Santo em nós. Nesta noite falei muito sobre assemelhação a Cristo, mas será que ela é alcançável? Por nossas próprias forças é evidente que não, mas Deus nos deu seu Santo Espírito para habitar em nós e nos transformar de dentro para fora. William Temple, que foi arcebispo na década de 40, costumava ilustrar este ponto falando sobre Shakespeare: “Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus”. Para concluir, um breve resumo do que tentamos pensar juntos aqui hoje: O propósito de Deus é nos tornar semelhantes a Cristo. O modo como Deus nos torna conformes à imagem de Cristo é enchendo-nos do seu Espírito. Em outras palavras, a conclusão é de natureza trinitária, pois envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Fonte do original em inglês: http://www.langhampartnership.org/2007/08/06/john-stott-address-at-keswick/