Dietrich Bonhoeffer
Por: Todd Kappelman
Tradução: Emerson de Oliveira
Por: Todd Kappelman
Tradução: Emerson de Oliveira
O Custo do Discipulado
O trabalho mais famoso de Bonhoeffer é O Custo do Discipulado, publicado em 1939. Este livro é uma exposição e interpretação rigorosa do Sermão no Monte, e Mateus 9:35-10:42. A maior preocupação de Bonhoeffer é graça barata. Esta é a graça que se tornou tão diluída que já não se assemelha à graça do Novo Testamento, a graça cara dos Evangelhos.
Pela frase graça barata, Bonhoeffer quer dizer a graça que trouxe caos e destruição; é o consentimento intelectual a uma doutrina sem uma real transformação na vida do pecador. É a justificação do pecador sem as obras que devem acompanhar o novo nascimento. Bonhoeffer diz da graça barata:
"É o pregação do perdão sem requerer arrependimento, o batismo sem a disciplina da igreja, a Comunhão sem a confissão, a absolvição sem a confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado".
A verdadeira graça, segundo Bonhoeffer, é uma graça que custará a vida de um homem. É a graça feita custosa pela vida de Cristo, que foi sacrificado para comprar a redenção do homem. A graça barata surgiu do desejo do homem de ser salvo, mas sem converter-se em discípulo. O sistema doutrinal da igreja, com suas listas de códigos de comportamento, se torna um substituto para o Cristo Vivo, e isto abarata o significado de discipulado. O verdadeiro crente tem que resistir a graça barata e tem que entrar na vida de discipulado ativo. A fé não pode significar ficar sentando e esperar; o cristão tem que ressucitar e tem que seguir o Cristo.
É aqui onde Bonhoeffer faz uma de suas mais duradouras afirmações sobre a vida do verdadeiro cristão. Escreve que "só aquele que crê é obediente, e só aquele que é obediente crê". Os homens se tornaram suaves e complacentes na graça barata e, portanto, se distanciaram da graça cara da abnegação e humilhação pessoal. Bonhoeffer acreditava que o ensino da graça barata era a ruína de mais cristãos que qualquer mandamento de realizar obras.
O discipulado, para Bonhoeffer, significa adesão rígida para Cristo e seus mandamentos. É, também, uma adesão rígida a Cristo como o objeto de nossa fé. Bonhoeffer comenta esta firme obediência no capítulo três de O Custo do Discipulado. Neste capítulo, o chamado de Levi e Pedro é usado para ilustrar a própria resposta do crente para o chamado de Cristo e o Evangelho. A única exigência que estes homens entenderam era que em cada caso o chamado era confiar na palavra de Cristo, e se agarrar a ela como algo que oferece mais segurança que todas as seguranças do mundo.
No décimo nono capítulo do Evangelho de Mateus temos a história do jovem rico que pergunta sobre a salvação e é respondido por Cristo que ele tem que vender todas suas posses, levar sua cruz e seguí-lo. Bonhoeffer enfatiza a confusão dos discípulos, que perguntam: "Quem então pode ser salvo"? A resposta que recebem é que é extremamente duro ser salvo, mas com Deus todas as coisas são possíveis.
Bonhoeffer e o Sermão no Monte
A exposição do Sermão no Monte é outro elemento importante de O Custo de Discipulado. Nele, Bonhoeffer coloca ênfase especial nas beatitudes por entender ao Cristo encarnado e crucificado. É aqui que os discípulos são chamados "bem-aventurados" por uma lista extraordinária de qualidades.
Os pobres de espírito aceitam a perda de todas as coisas, especialmente a perda de si, de forma que eles podem seguir o Cristo. Os que choram são pessoas que vivem sem a paz e prosperidade deste mundo. O choro é a rejeição consciente da alegria na qual o mundo se regozija, e encontrar a própria felicidade e realização na pessoa de Cristo.
Os mansos, diz Bonhoeffer, são aqueles que não falam em defesa de seus próprios direitos. Subordinam continuamente seus direitos e eles mesmos para a vontade de Cristo primeiro e, por conseguinte, para o serviço dos outros. Igualmente, os que tem fome e sede de justiça também renunciam a expectativa que o homem pode fazer do mundo um paraíso. Sua esperança está na justiça que só o reino de Cristo pode trazer.
Os misericordiosos deixaram sua própria dignidade e se consagram aos outros, ajudando os necessitados, os fracos, e os desterrados. O puros de coração já não estão preocupados pelo chamado deste mundo; eles se resignaram para o chamado de Cristo e Seus desejos para suas vidas. Os pacificadores detestam a violência que se usa freqüentemente para resolver problemas. Este ponto seria de significado especial para Bonhoeffer, que escrevia às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Os pacificadores mantêm a comunhão onde os outros encontrariam uma razão para romper uma relação. Estes indivíduos sempre vêem outra opção.
Os que são perseguidos por causa da justiça estão dispostos a sofrer pela causa de Cristo. Qualquer e toda causa justa se torna sua causa porque é parte da obra geral de Cristo. O sofrimento se converte em forma de comunhão com Deus. A esta lista se junta a bênção final pronunciada àqueles que são perseguidos para causa da justiça. Estes receberão uma grande recompensa no céu e serão comparados aos profetas que também sofreram.
A ênfase de Bonhoeffer no sofrimento est diretamente ligada ao sofrimento de Cristo. A igreja é chamada para suportar todo o fardo de Cristo, especialmente no tocante ao sofrimento, senão, irá se desmoronar sob o peso do fardo. Cristo sofreu, diz Bonhoeffer, mas seu sofrimento é eficaz para a remissão dos pecados. Nós também podemos sofrer, mas nosso sofrimento não é para propósitos redentores. Nós sofremos, diz Bonhoeffer, não só porque é o que corresponde à igreja, mas de forma que o mundo possa nos ver sofrer e entender que há uma forma em que os homens possam suportar os fardos da vida, e que esse caminho é só através de Cristo.
O discipulado, para Bonhoeffer, não foi limitado ao que nós podemos compreender - tem que transcender toda a compreensão. O crente tem que mergulhar nas águas profundas, mais além da compreensão e ensino cotidiano da igreja, e isto deve ser feito individualmente e coletivamente.
A Ética de Bonhoeffer
A Ética, a obra de Dietrich Bonhoeffer, foi escrita de 1940-1943. Escrita em forma de conferências, este é sua obra mais madura e é considerada sua maior contribuição a teologia. A ética cristã, ele diz, deve ser considerada com referência ao homem regenerado cujo principal desejo deveria ser agradar a Deus, e não com relação a um sistema filosófico hermético. Homem não é, e não pode, ser o árbitro final do bem e do mal. Isto só reservado para Deus. Quando o homem tenta decidir o que é certo e errado, seus esforços são fadados ao fracasso. Bonhoeffer escreveu que "em vez de conhecer só ao Deus que é bom para com ele e em vez de conhecer todas as coisas nEle, [o homem] só se conhece a si mesmo como a origem do bem e do mal". Com esta declaração, Bonhoeffer entrou em um dos problemas filosóficos e teológicos mais difíceis na história da igreja: o problema do mal.
Bonhoeffer acreditava que o problema do mal só poderia ser entendido levando em conta a Queda da humanidade. A Queda causou a desunião entre o homem e Deus, com o resultado de que o homem é incapaz de discernirentre o bem e o mal. Os homens modernos têm uma vaga inqüietude sobre sua capacidade de conhecer o bem e o mal. Bonhoeffer afirmou que isto é, em parte, devido ao desejo para certeza filosófica. Porém, Bonhoeffer instou ao cristão a ocupar-se de viver segundo a vontade de Deus, em vez de buscar um conjunto de regras que não possa seguir. E, enquanto Bonhoeffer não defendia uma revelação direta e individual em todo dilema ético, ele acreditava que o homem pode ter conhecimento da vontade de Deus. Ele disse que "se um homem pede a Deus humildemente, Deus lhe dará certo conhecimento de sua vontade; e então, depois de toda esta busca fervente, haverá a liberdade para tomar verdadeiras decisões, e [isto] com a confiança de que não é o homem mas o próprio Deus que, através desta busca, põe em efeito sua vontade'.
Talvez nossa primeira resposta a Bonhoeffer é que ele parece ser algum tipo de místico. Porém, é imperativo entender o tempo em que estava escrevendo, e alguns dos problemas específicos que estava tratando. A Segunda Guerra Mundial estava em curso e as maiores questões éticas do século estavam confrontando a igreja. Os homens bons, e até mesmo cristãos comprometidos, se encontravam em lados opostos da guerra. Seria absurdo supor que o bem e o mal, em níveis individuais ou nacionais, fossem óbvios, e que havia um acordo universal entre os cristãos. No meio de toda esta confusão, um jovem pastor-teólogo e membro da Resistência só poderia aconselhar que os crentes se voltassem a Cristo com a expectativa de que era possível obter verdadeiras respostas. Este tipo de confiança é sumamente necessário entre cristãos que enfrentam um mundo destituído de respostas.
A força da Ética de Bonhoeffer está não em sua resolução sistemática dos problemas que enfrentam a igreja, mas no reconhecimento que a vida é complexa e todos os sistemas fora da humilde submissão à Palavra de Deus estão condenados ao fracasso. Por perturbadora que seja a Ética de Bonhoeffer, é um chamado refrescante para a igreja contemporânea a arrepender-se e voltar a uma vida caracterizada pela oração, a marca tradicional da igreja primitiva.
A correspondência da prisão de Dietrich Bonhoeffer
Nossa consideração final da obra de Dietrich Bonhoeffer, que foi enforcado em 1945 por sua parte em uma tentativa de assassinato de Hitler, se centrará em suas Cartas e Documentos de Prisão, que começou em 1942. Estas cartas representam algumas das obras mais maduras de Bonhoeffer, assim como observações perturbadoras relacionadas à igreja nos turbulentos anos da metade do século vinte.
O ensaio inicial se intitula Depois de Dez Anos. Aqui Bonhoeffer se identifica com o mal dos vezes, e especialmente a guerra. Ele fala das situações irracionais que as pessoas racionais têm que enfrentar. Ele adverte contra àqueles que são enganados pelo mal que é disfarçado como bom, e ele clama contra fanáticos morais equivocados e os escravos das tradições e regras.
Vendo os horrores de guerra, Bonhoeffer nos recorda que o que nós menosprezamos nos outros nunca está completamente ausente de nós mesmos. Esta advertência contra desprezo pela humanidade é muito importante, levando em conta autores como Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre e Albert Camus, cujo desprezo para a guerra se transformou em desilusão com a humanidade. Este é um contraste notável entre várias testemunhas da guerra que chegaram a conclusões muito diferentes. As conclusões de Bonhoeffer foram o resultado direto de uma relação pessoal com Cristo. As conclusões de Hemingway, Sartre, e Camus foram observações pessimistas de quem não tem uma esperança final.
Bonhoeffer enfrentou a morte diariamente por muitos anos e chegou a algumas conclusões corajosas com relação a que postura poderiam adotar os crentes a este último evento. Ele argumentava que se pode experimentar o milagre de vida enfrentando a morte diariamente; a vida poderia ser vista de fato como o dom de Deus que é. Somos nós, e não nossas circunstâncias externas, que fazemos a morte ser potencialmente positiva. A morte pode ser voluntariamente algo aceita.
A questão final afirmada neste ensaio inicial é se é possível que homens comuns e simples prosperarem novamente depois da guerra. Bonhoeffer não oferece uma solução clara, que pode ser vista como uma perspectiva dos verdadeiros horrores da guerra como também uma questão em aberto projetada para provocar a participação individual no problema.
Muito antes de filmes como a Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan ou Além da Linha Vermelha, Bonhoeffer informou sobre as atrocidades da guerra. Algumas das cartas comentam a brutalidade e horrores da vida nos campos de concentração, e podemos ver a a expectativa de execução em muitas de suas cartas. O que faz estas cartas mais importantes que os filmes populares são que as cartas são indubitavelmente confissões de alguém que está olhando a guerra como um cristão. Bonhoeffer pôde simpatizar com os problemas enfrentados pelos cristãos que viviam em tempos tão turbulentos.
O significado de Bonhoeffer é difícil de avaliar completamente e com precisão, mas há duas observações que podem nos ajudar ao chegar ao final da análise de suas obras. Sempre temos que ter em mente a época de seus escritos. Isto explica muito do que não poderíamos entender no princípio. Finalmente, qualquer cristão faria bem em ler as obras de alguém que deu sua vida em conexão direta com suas convicções cristãs. Houve muitos mártires por este século, mas poucos que tem registrado tão vividamente as circunstâncias que levaram a seu martírio com sagacidade teológica e com uma visão para a posteridade futura.
O trabalho mais famoso de Bonhoeffer é O Custo do Discipulado, publicado em 1939. Este livro é uma exposição e interpretação rigorosa do Sermão no Monte, e Mateus 9:35-10:42. A maior preocupação de Bonhoeffer é graça barata. Esta é a graça que se tornou tão diluída que já não se assemelha à graça do Novo Testamento, a graça cara dos Evangelhos.
Pela frase graça barata, Bonhoeffer quer dizer a graça que trouxe caos e destruição; é o consentimento intelectual a uma doutrina sem uma real transformação na vida do pecador. É a justificação do pecador sem as obras que devem acompanhar o novo nascimento. Bonhoeffer diz da graça barata:
"É o pregação do perdão sem requerer arrependimento, o batismo sem a disciplina da igreja, a Comunhão sem a confissão, a absolvição sem a confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, vivo e encarnado".
A verdadeira graça, segundo Bonhoeffer, é uma graça que custará a vida de um homem. É a graça feita custosa pela vida de Cristo, que foi sacrificado para comprar a redenção do homem. A graça barata surgiu do desejo do homem de ser salvo, mas sem converter-se em discípulo. O sistema doutrinal da igreja, com suas listas de códigos de comportamento, se torna um substituto para o Cristo Vivo, e isto abarata o significado de discipulado. O verdadeiro crente tem que resistir a graça barata e tem que entrar na vida de discipulado ativo. A fé não pode significar ficar sentando e esperar; o cristão tem que ressucitar e tem que seguir o Cristo.
É aqui onde Bonhoeffer faz uma de suas mais duradouras afirmações sobre a vida do verdadeiro cristão. Escreve que "só aquele que crê é obediente, e só aquele que é obediente crê". Os homens se tornaram suaves e complacentes na graça barata e, portanto, se distanciaram da graça cara da abnegação e humilhação pessoal. Bonhoeffer acreditava que o ensino da graça barata era a ruína de mais cristãos que qualquer mandamento de realizar obras.
O discipulado, para Bonhoeffer, significa adesão rígida para Cristo e seus mandamentos. É, também, uma adesão rígida a Cristo como o objeto de nossa fé. Bonhoeffer comenta esta firme obediência no capítulo três de O Custo do Discipulado. Neste capítulo, o chamado de Levi e Pedro é usado para ilustrar a própria resposta do crente para o chamado de Cristo e o Evangelho. A única exigência que estes homens entenderam era que em cada caso o chamado era confiar na palavra de Cristo, e se agarrar a ela como algo que oferece mais segurança que todas as seguranças do mundo.
No décimo nono capítulo do Evangelho de Mateus temos a história do jovem rico que pergunta sobre a salvação e é respondido por Cristo que ele tem que vender todas suas posses, levar sua cruz e seguí-lo. Bonhoeffer enfatiza a confusão dos discípulos, que perguntam: "Quem então pode ser salvo"? A resposta que recebem é que é extremamente duro ser salvo, mas com Deus todas as coisas são possíveis.
Bonhoeffer e o Sermão no Monte
A exposição do Sermão no Monte é outro elemento importante de O Custo de Discipulado. Nele, Bonhoeffer coloca ênfase especial nas beatitudes por entender ao Cristo encarnado e crucificado. É aqui que os discípulos são chamados "bem-aventurados" por uma lista extraordinária de qualidades.
Os pobres de espírito aceitam a perda de todas as coisas, especialmente a perda de si, de forma que eles podem seguir o Cristo. Os que choram são pessoas que vivem sem a paz e prosperidade deste mundo. O choro é a rejeição consciente da alegria na qual o mundo se regozija, e encontrar a própria felicidade e realização na pessoa de Cristo.
Os mansos, diz Bonhoeffer, são aqueles que não falam em defesa de seus próprios direitos. Subordinam continuamente seus direitos e eles mesmos para a vontade de Cristo primeiro e, por conseguinte, para o serviço dos outros. Igualmente, os que tem fome e sede de justiça também renunciam a expectativa que o homem pode fazer do mundo um paraíso. Sua esperança está na justiça que só o reino de Cristo pode trazer.
Os misericordiosos deixaram sua própria dignidade e se consagram aos outros, ajudando os necessitados, os fracos, e os desterrados. O puros de coração já não estão preocupados pelo chamado deste mundo; eles se resignaram para o chamado de Cristo e Seus desejos para suas vidas. Os pacificadores detestam a violência que se usa freqüentemente para resolver problemas. Este ponto seria de significado especial para Bonhoeffer, que escrevia às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Os pacificadores mantêm a comunhão onde os outros encontrariam uma razão para romper uma relação. Estes indivíduos sempre vêem outra opção.
Os que são perseguidos por causa da justiça estão dispostos a sofrer pela causa de Cristo. Qualquer e toda causa justa se torna sua causa porque é parte da obra geral de Cristo. O sofrimento se converte em forma de comunhão com Deus. A esta lista se junta a bênção final pronunciada àqueles que são perseguidos para causa da justiça. Estes receberão uma grande recompensa no céu e serão comparados aos profetas que também sofreram.
A ênfase de Bonhoeffer no sofrimento est diretamente ligada ao sofrimento de Cristo. A igreja é chamada para suportar todo o fardo de Cristo, especialmente no tocante ao sofrimento, senão, irá se desmoronar sob o peso do fardo. Cristo sofreu, diz Bonhoeffer, mas seu sofrimento é eficaz para a remissão dos pecados. Nós também podemos sofrer, mas nosso sofrimento não é para propósitos redentores. Nós sofremos, diz Bonhoeffer, não só porque é o que corresponde à igreja, mas de forma que o mundo possa nos ver sofrer e entender que há uma forma em que os homens possam suportar os fardos da vida, e que esse caminho é só através de Cristo.
O discipulado, para Bonhoeffer, não foi limitado ao que nós podemos compreender - tem que transcender toda a compreensão. O crente tem que mergulhar nas águas profundas, mais além da compreensão e ensino cotidiano da igreja, e isto deve ser feito individualmente e coletivamente.
A Ética de Bonhoeffer
A Ética, a obra de Dietrich Bonhoeffer, foi escrita de 1940-1943. Escrita em forma de conferências, este é sua obra mais madura e é considerada sua maior contribuição a teologia. A ética cristã, ele diz, deve ser considerada com referência ao homem regenerado cujo principal desejo deveria ser agradar a Deus, e não com relação a um sistema filosófico hermético. Homem não é, e não pode, ser o árbitro final do bem e do mal. Isto só reservado para Deus. Quando o homem tenta decidir o que é certo e errado, seus esforços são fadados ao fracasso. Bonhoeffer escreveu que "em vez de conhecer só ao Deus que é bom para com ele e em vez de conhecer todas as coisas nEle, [o homem] só se conhece a si mesmo como a origem do bem e do mal". Com esta declaração, Bonhoeffer entrou em um dos problemas filosóficos e teológicos mais difíceis na história da igreja: o problema do mal.
Bonhoeffer acreditava que o problema do mal só poderia ser entendido levando em conta a Queda da humanidade. A Queda causou a desunião entre o homem e Deus, com o resultado de que o homem é incapaz de discernirentre o bem e o mal. Os homens modernos têm uma vaga inqüietude sobre sua capacidade de conhecer o bem e o mal. Bonhoeffer afirmou que isto é, em parte, devido ao desejo para certeza filosófica. Porém, Bonhoeffer instou ao cristão a ocupar-se de viver segundo a vontade de Deus, em vez de buscar um conjunto de regras que não possa seguir. E, enquanto Bonhoeffer não defendia uma revelação direta e individual em todo dilema ético, ele acreditava que o homem pode ter conhecimento da vontade de Deus. Ele disse que "se um homem pede a Deus humildemente, Deus lhe dará certo conhecimento de sua vontade; e então, depois de toda esta busca fervente, haverá a liberdade para tomar verdadeiras decisões, e [isto] com a confiança de que não é o homem mas o próprio Deus que, através desta busca, põe em efeito sua vontade'.
Talvez nossa primeira resposta a Bonhoeffer é que ele parece ser algum tipo de místico. Porém, é imperativo entender o tempo em que estava escrevendo, e alguns dos problemas específicos que estava tratando. A Segunda Guerra Mundial estava em curso e as maiores questões éticas do século estavam confrontando a igreja. Os homens bons, e até mesmo cristãos comprometidos, se encontravam em lados opostos da guerra. Seria absurdo supor que o bem e o mal, em níveis individuais ou nacionais, fossem óbvios, e que havia um acordo universal entre os cristãos. No meio de toda esta confusão, um jovem pastor-teólogo e membro da Resistência só poderia aconselhar que os crentes se voltassem a Cristo com a expectativa de que era possível obter verdadeiras respostas. Este tipo de confiança é sumamente necessário entre cristãos que enfrentam um mundo destituído de respostas.
A força da Ética de Bonhoeffer está não em sua resolução sistemática dos problemas que enfrentam a igreja, mas no reconhecimento que a vida é complexa e todos os sistemas fora da humilde submissão à Palavra de Deus estão condenados ao fracasso. Por perturbadora que seja a Ética de Bonhoeffer, é um chamado refrescante para a igreja contemporânea a arrepender-se e voltar a uma vida caracterizada pela oração, a marca tradicional da igreja primitiva.
A correspondência da prisão de Dietrich Bonhoeffer
Nossa consideração final da obra de Dietrich Bonhoeffer, que foi enforcado em 1945 por sua parte em uma tentativa de assassinato de Hitler, se centrará em suas Cartas e Documentos de Prisão, que começou em 1942. Estas cartas representam algumas das obras mais maduras de Bonhoeffer, assim como observações perturbadoras relacionadas à igreja nos turbulentos anos da metade do século vinte.
O ensaio inicial se intitula Depois de Dez Anos. Aqui Bonhoeffer se identifica com o mal dos vezes, e especialmente a guerra. Ele fala das situações irracionais que as pessoas racionais têm que enfrentar. Ele adverte contra àqueles que são enganados pelo mal que é disfarçado como bom, e ele clama contra fanáticos morais equivocados e os escravos das tradições e regras.
Vendo os horrores de guerra, Bonhoeffer nos recorda que o que nós menosprezamos nos outros nunca está completamente ausente de nós mesmos. Esta advertência contra desprezo pela humanidade é muito importante, levando em conta autores como Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre e Albert Camus, cujo desprezo para a guerra se transformou em desilusão com a humanidade. Este é um contraste notável entre várias testemunhas da guerra que chegaram a conclusões muito diferentes. As conclusões de Bonhoeffer foram o resultado direto de uma relação pessoal com Cristo. As conclusões de Hemingway, Sartre, e Camus foram observações pessimistas de quem não tem uma esperança final.
Bonhoeffer enfrentou a morte diariamente por muitos anos e chegou a algumas conclusões corajosas com relação a que postura poderiam adotar os crentes a este último evento. Ele argumentava que se pode experimentar o milagre de vida enfrentando a morte diariamente; a vida poderia ser vista de fato como o dom de Deus que é. Somos nós, e não nossas circunstâncias externas, que fazemos a morte ser potencialmente positiva. A morte pode ser voluntariamente algo aceita.
A questão final afirmada neste ensaio inicial é se é possível que homens comuns e simples prosperarem novamente depois da guerra. Bonhoeffer não oferece uma solução clara, que pode ser vista como uma perspectiva dos verdadeiros horrores da guerra como também uma questão em aberto projetada para provocar a participação individual no problema.
Muito antes de filmes como a Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan ou Além da Linha Vermelha, Bonhoeffer informou sobre as atrocidades da guerra. Algumas das cartas comentam a brutalidade e horrores da vida nos campos de concentração, e podemos ver a a expectativa de execução em muitas de suas cartas. O que faz estas cartas mais importantes que os filmes populares são que as cartas são indubitavelmente confissões de alguém que está olhando a guerra como um cristão. Bonhoeffer pôde simpatizar com os problemas enfrentados pelos cristãos que viviam em tempos tão turbulentos.
O significado de Bonhoeffer é difícil de avaliar completamente e com precisão, mas há duas observações que podem nos ajudar ao chegar ao final da análise de suas obras. Sempre temos que ter em mente a época de seus escritos. Isto explica muito do que não poderíamos entender no princípio. Finalmente, qualquer cristão faria bem em ler as obras de alguém que deu sua vida em conexão direta com suas convicções cristãs. Houve muitos mártires por este século, mas poucos que tem registrado tão vividamente as circunstâncias que levaram a seu martírio com sagacidade teológica e com uma visão para a posteridade futura.
DE-MA-IS!!!!
ResponderExcluirSHOW DE BOLA!!!!!
ResponderExcluirELIANA