CAPÍTULO 3
O EDIFÍCIO DA IGREJA HERDANDO O COMPLEXO DE EDIFÍCIO
No afã de substituir antigas religiões, o cristianismo tornou-se uma religião.
-Alexander SchmemannO
moderno cristianismo é obcecado pelo tijolo e pelo concreto. O complexo de edifício está
tão inculcado em nossas mentes que se um grupo de crentes começa a reunir-se, sua primeira idéia é
encontrar um salão. Como pode um grupo de cristãos pretender ser uma igreja sem um salão? E por
aí vão seus pensamentos.
A “Igreja” está tão ligada à idéia de igreja enquanto edifício que nós inconscientemente
equiparamos as duas. Escute o vocabulário do cristão médio de hoje:
"Amigo, você viu como é bonita essa igreja que acabamos de passar?”"Essa é a maior igreja que já vi. Sua conta de luz deve ser bem elevada!”
"Nossa igreja é bem pequena. Estou ficando claustrofóbico. Precisamos ampliar o salão”.
"Faz frio na igreja hoje; os bancos estão me congelando”.
"Fomos à igreja durante quase todos os domingos do ano”.
Escutemos o vocabulário do pastor mediano."Não é maravilhoso estar na casa de Deus hoje?"
"Necessitamos ser reverentes quando entramos no santuário do Senhor”.
Ou como a mãe fala com seu filho traquina (em tom grave), “Tire esse sorriso de sua boca,
agora você está na igreja! Precisamos nos comportar na casa do Senhor!”
Para dizer sem rodeios, nenhum destes pensamentos tem qualquer coisa a ver com o
cristianismo do NT. Melhor dizendo, eles refletem o pensamento de outras religiões —
principalmente o Judaísmo e o paganismo.
1[1]
O antigo Judaísmo estava centrado em três elementos: O templo, o sacerdócio e o sacrifício.
Quando Jesus veio, Ele cancelou os três elementos cumprindo-os em Si mesmo. Ele é o Templo
2[2]
que incorpora uma casa nova e viva feita de pedras
vivas — “sem mãos [humanas]”.3[3] Ele é o
Sacerdote
4[4] que estabeleceu um novo sacerdócio.5[5] Ele é o Sacrifício perfeito e definitivo.6[6]
1[1]
Como foi dito anteriormente, a mistura entre o Judaísmo e a mística religiosa pagã em muito influenciou o formato da Igreja
após a idade Apostólica. Ilion T. Jones,
A Historical Approach to Evangelical Worship (New York: Abingdon Press, 1954), pp.
94, 97.
2[2]
John 1:14 (a palavra grega para “habitou” significa literalmente “tabernaclou”); 2:19-21.
3[3]
Marcos 14:58; Atos 7:48; 1 Cor. 3:16; 2 Cor. 5:1, 6:16; Efésios 2:21-22; Heb. 3:6-9, 9:11, 24; 1 Tim. 3:15.
4[4]
Heb. 4:14; 5:5,6,10; 8:1.
5[5]
1 Pedro 2:9; Apocalipse 1:6.
6[6]
Heb. 7:27; 9:14,25-28; 10:12; 1 Pedro 3:18. A Epístola aos Hebreus continuamente enfatiza que Jesus ofertou-se “de uma vez
para sempre” enfatizando o fato de que Ele não necessita ser sacrificado novamente. O sacrifício de Cristo no Calvário foi
completamente suficiente.
Como conseqüência, o templo, o sacerdócio e o sacrifício do Judaísmo cessaram com a vinda de
Jesus Cristo.
7[7] Cristo é o cumprimento e a realidade de tudo isso.8[8] No paganismo grecoromano9[
9]
estes 3 elementos também estavam presentes: Os pagãos tiveram seus templos,10[10] seus
sacerdotes e seus sacrifícios.
11[11]
Foram apenas os cristãos que descartaram todos estes elementos.
12[12] Poder-se-ia dizer que o
cristianismo foi a primeira religião sem templos. Na mente do cristão primitivo, era a
pessoa que
constituía o espaço sagrado, não a arquitetura. Os primeiros cristãos entendiam que eles mesmos —
coletivamente — eram o templo de Deus e a casa de Deus.
13[13]
Notavelmente, em nenhuma parte do NT, encontramos os termos “igreja” (
ekklesia), “templo”,
ou “casa de Deus”, usados para referir-se a edifícios próprios. Ao ouvido do cristão do século I,
descrever um edifício como
ekklesia (igreja) seria como chamar uma mulher de arranha-céu!14[14]
O uso inicial da palavra
ekklesia (igreja) para referir-se a um lugar de reunião cristã ocorre no
ano 190 d.C. por Clemente de Alexandria (150-215).
15[15] Clemente foi a primeira pessoa a utilizar a
frase “ir à igreja”, que era um pensamento alheio ao crente do século I.
16[16] (Ninguém pode
deslocar-se a um lugar que é ele mesmo! Ao longo do NT,
ekklesia sempre se referiu a uma
assembléia de pessoas, não a um lugar!)
17[17]
7[7]
A mensagem de Estevão em Atos 7 indica que “o templo era meramente uma casa feita por mãos humanas, originado com
Salomão; não tinha nenhuma conexão com a tenda de encontro que a Moisés fora ordenado montar em um padrão divinamente
revelado e usada até o tempo de Davi”. (Harold W. Turner,
From Temple to Meeting House: The Phenomenology and Theology
of Places of Worship
, The Hague: Mouton Publishers, 1979, pp. 116-117). Veja também o contraste utilizado pelo Senhor em
Marcos 14:58 de que o templo de Salomão (e Herodes) foi feito “por mãos [humanas]”, enquanto que o templo que Ele
construiria seria feito “sem mãos [humanas]”. Estevão usa o mesmo palavreado em Atos 7:48... Deus não habita em templos
“feito por mãos [humanas]”. Em outras palavras, nosso Pai celeste não é um construtor de templos!
8[8]
Col. 2:16-17. Jesus Cristo veio cumprir e clarear imagem vaga da lei judaica, este é o tema central da carta aos hebreus. Todos
os escritores do NT afirmam que Deus não requer nem sacrifício santo nem sacerdócio mediatório. Todas essas coisas foram
cumpridas Jesus — o Sacrifício e a Mediação Sacerdotal.
9[9]
O paganismo dominou o Império romano até por volta do quarto século. Mas muitos de seus elementos foram absorvidos
pelos cristãos nos séculos III e IV. O termo “pagão” foi uma invenção dos apologistas cristãos numa tentativa de agrupar os não
cristãos em uma embalagem adequada. Originariamente, um “pagão” é um camponês; alguém que habita o
pagus ou distrito
rural. Pelo fato do cristianismo esparramar-se principalmente nas cidades, o rude camponês, ou “pagão”, foi tido como aquele
que acreditava nos antigos deuses (
Christians and the Holy Places, p. 301).
10[10]
Ernest H. Short dedica todo um capítulo à arquitetura dos templos gregos em seu livro A History of Religious Architecture
(London: Philip Allen & Co., 1936), Capítulo 2. David Norrington afirma, “Os edifícios religiosos foram, contudo, parte integral
da religião greco-romana”. (David C. Norrington,
To Preach or Not to Preach? The Church’s Urgent Question, Carlisle:
Paternoster Press, 1996, p. 27). O pagãos também tinham santuários “santos”. Michael Grant,
The Founders of the Western
World: The History of Greece and Rome
(New York: Charles Scribner’s Sons, 1991), pp. 232-234.
11[11]
Robin Lane Fox, Pagans and Christians (New York: Alfred Knopf, 1987), pp. 39, 41-43, 71-76, 206.
12[12]
Christian History, Volume XII, No. 1, Issue 37, p. 3.
13[13]
1 Cor. 3:16; Gál. 6:10; Efésios 2:20-22; Heb. 3:5; 1 Tim. 3:15; 1 Pedro 2:5; 4:17. Todas estas passagens se referem ao povo
de Deus, não a um edifício. Nas palavras de Arthur Wallis, “No Velho Testamento, Deus tinha um santuário para Seu povo; no
Novo, Deus tem Seu povo como um santuário”.
14[14]
De acordo com o NT, a igreja é a garota mais bonita do mundo: John 3:29; 2 Cor. 11:2; Efésios 5:25-32; Apocalipse 21:9.
15[15]
Clement of Alexandria, The Instructor, Book III, Ch. 11.
16[16]
Adolf Von Harnack referindo-se aos cristãos dos séculos I e II, disse, “uma coisa é clara — a idéia de um lugar especial para
adoração não tinha surgido ainda. A idéia cristã de Deus e do divino serviço não apenas declinou em promover tal lugar, ela a
excluiu, na medida em que as circunstâncias práticas da situação retardaram seu desenvolvimento” (
To Preach or Not to Preach?
p. 28).
17[17]
Robert Saucey, The Church in God’s Program, p. 12; A.T. Robertson, A Grammar of the Greek New Testament in the Light
of Historical Research
, p. 174. A palavra inglesa “church” assim como a palavra escocesa kirk e a palavra germânica kirche são
todas derivadas da palavra grega
kuriakon que significa “pertencendo a Deus”. A palavra inglesa “church” vem do inglês arcaico
cirice
ou circe que é derivada da palavra grega kuriakon. Com o tempo, ela passou a significar “casa de Deus” e foi involucrada
referindo-se a edifício. Os tradutores da Bíblia Inglesa cometeram a enorme injustiça traduzindo
ekklesia por “church”. Ekklesia,
em todas suas 114 aparições no NT, sempre significa uma assembléia de pessoas (
The Church in God’s Program, pp. 11,16).
William Tyndale deveria ser recomendado porque na tradução dele do NT, ele recusou usar a palavra “
church” para traduzir
ekklesia
. Ao invés de church, ele a traduziu mais corretamente como “congregação”. Infelizmente, os tradutores do KJV
escolheram não seguir a tradução superior de Tyndale neste assunto e recorreram a “
church” como tradução de ekklesia. Eles
rejeitaram a correta tradução de
ekklesia como “congregação” porque esta era a terminologia usada pelos Puritanos ("The
Translators to the Reader”, Prefácio da tradução de G. Bray em 1611,
Documents of the English Reformation, Cambridge: James
Clarke, 1994, p. 435).
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